O PAPO 10 DE HOJE É COM O NOSSO HISTORIADOR GIBSON MACHADO. NA ÍNTEGRA.
01. BLOG – QUEM É GIBSON MACHADO?
Sou um cearamirinense que saiu de sua cidade desbravando cerrados e florestas em grande parte do território brasileiro e um dia descobriu que a vida o levou para longe, e que voltar é rever a doce paisagem familiar, voltar tinha um significado especial: encontrar a companheira que daria dois anjos de presente: Rafael e Ana Lourdes.
Atualmente sou professor de arte da rede estadual de ensino em Ceará-Mirim e da rede municipal de ensino na cidade de João Câmara. Tenho buscado registrar a memória de Ceará-Mirim através de alguns garimpos imagéticos e entrevistas com pessoas que fizeram e fazem parte do desenvolvimento sócio-cultural de nossa terra. Sou um sonhador que tem esperança de um dia ver nosso patrimônio histórico e cultural fortalecido e valorizado pela nossa gente.
02. LEITOR – QUE SUGESTÕES VOCÊ DARIA A NOVA ADMINISTRAÇÃO, VISANDO UM INCREMENTO DA CULTURA EM GERAL, DANDO ASSIM UMA NOVA E MAIOR VISIBILIDADE DE NOSSOS VALORES CULTURAIS?
A equipe do prefeito tem um projeto de cultura a ser executado durante seu governo e a Fundação Nilo Pereira está bem representada, pois tem uma equipe dedicada e preparada. O êxito da equipe de cultura vai depender das condições disponibilizadas e prioridades do executivo.
Como sugestão para uma política de cultura:
A criação da lei de incentivo à cultura seria um marco importante para a implementação dos projetos culturais;
Criação de um salário vitalício para os Mestres de nossa cultura popular. Eles poderiam repassar seus conhecimentos nas escolas através de oficinas e palestras e, com isso, formariam novos brincantes ou artesãos divulgando e preservando nossas tradições.
Criação de um festival anual de artes contemplando produções de artes visuais, música, teatro e dança.
Promoção de um fórum anual de cultura popular culminando com um encontro de grupos folclóricos tradicionais.
Projeto para edição de livros que poderia ser denominado “Coleção Cearamirinense”, onde seriam publicados anualmente dois livros. Essas publicações poderiam ser monografias de pesquisas sobre Ceará-Mirim realizadas por jovens universitários que têm seus trabalhos arquivados nas bibliotecas dos cursos e outras temáticas selecionadas por uma comissão de cultura. Assim, toda população teria acesso aos trabalhos e estes, seriam fontes bibliográficas para futuros pesquisadores.
03. LEITOR – GIBSON, EM SEU VALOROSO ESFORÇO PARA O RESGATE DA CULTURA CEARAMIRINENSE REALIZOU EM VÍDEO ALGUMAS ENTREVISTAS E COLHEU DEPOIMENTOS DE PERSONALIDADES E FIGURAS FOLCLÓRICAS DO VALE, REGISTRANDO PARA A POSTERIDADE. QUAIS FORAM OS ENTREVISTADOS E COM QUEM MAIS VOCÊ GOSTARIA DE FAZER ESTE TRABALHO E AINDA NÃO FOI POSSÍVEL?
Durante 15 anos de pesquisas tenho registrado muitas conversas e dentre elas enfatizarei algumas como Etevaldo Santiago, Tião Oleiro (mestre do Congo), Zé Baracho (embaixador do congo) Maria do Carmo (mestra do Pastoril), Luiz Chico (mestre do Boi de Reis), Severino Roberto (cabocolinhos), Luiz de Julia, José Lemos, Antonio Potengi, Manoel Ubiratan, Roberto Varela, Ruy Pereira Junior, Joaquim Câmara, dentre outros.
Eu gostaria de fazer registros com todos aqueles que contribuíram e contribuem com desenvolvimento de nossa terra. Infelizmente não temos estrutura para que isso seja realizado satisfatoriamente. O tempo é curto e os recursos são poucos para que possamos fazer uma amostragem mais abrangente. No entanto temos feito o possível para entrevistar o maior número de personalidades. Agendamos algumas entrevistas com personagens que fizeram parte de nossa história, como é o caso do cearamirinense Luis de Américo, o maior vaqueiro do estado nos anos 1940 e 1950 que entrevistei recentemente. Brevemente serão entrevistados Franklim Marinho, Manoel Barbosa, Lucio Lustosa (Som), Dorinha Parteira, Lizete Miranda, Paulo Correia, Belchior (mestre do Bambelô) e outros.
04. LEITOR – SABEMOS QUE POR ALGUNS ANOS VOCÊ FEZ PARTE DA EQUIPE DE CULTURA DA FUNDAÇÃO CULTURAL NILO PEREIRA, NA GESTÃO PASSSADA. GOSTARIA DE SABER SE AO SAIR DELA VOCÊ FICOU COM AQUELA CERTEZA DE MISSÃO CUMPRIDA OU CARREGOU CONSIGO ALGUMA FRUSTRAÇÃO?
Quando nos propomos fazer cultura temos certeza que nunca “cumpriremos a missão”. Serão cumpridas algumas metas, por que a dificuldade é enorme e quando surge uma oportunidade abraçamos e fazemos o possível para realizá-las.
Fiz parte da equipe técnica da Fundação Nilo Pereira por quatro anos e quando foi possível foram realizados vários projetos significativos para cultura local. Dentre eles destaco o Olheiro das Artes, idealizado pelo professor Bill e que teve uma visibilidade nacional através da parceria com o Canal Futura. Dos projetos acompanhados pelo Canal Futura em todo o Brasil o Olheiro das Artes foi o único que tinha um padrão diferenciado com atividades culturais realizadas dentro de um Mercado Público, inclusive foi destaque no calendário de programação do Canal distribuído em todo o Brasil. Através dessa parceria foi possível o Canal fazer o documentário com o Mestre Tião dos Congos de Guerra que concorreu ao XIX Prêmio Internacional de Curtas de São Paulo em 2006. O Canal Futura fez a seleção em todo Brasil escolhendo, entre centenas de pessoas, apenas 16 personagens populares para o Programa Toda Beleza e o Mestre Tião foi escolhido entre eles, inclusive ganhou um painel com sua fotografia na galeria da Fundação Roberto Marinho no Rio de Janeiro. O programa é exibido diariamente para milhões de espectadores em todo o mundo. Só isso bastava para ter a “Missão Cumprida”.
Outro projeto que destaco, particularmente, foi a publicação do meu livro Ceará-Mirim Memória Iconográfica. Ele foi editado pela prefeitura sendo incluído dentro da programação do sesquicentenário de Ceará-Mirim e a atitude da prefeita Edinólia em publicá-lo foi uma grande contribuição para a preservação e fortalecimento da memória de nossa cidade.
Há sempre uma frustração quando não atingimos completamente as metas que traçamos objetivando uma programação futura. Faz parte do sistema, no entanto, devemos encará-las como desafios para nos fortalecer em busca de atividades mais elaboradas e sistematizadas onde aprenderemos a conviver e tirar delas (das frustrações) o melhor ensinamento que pudermos.
05. LEITOR - NO ANO PASSADO A PREMIAÇÃO DO CONCURSO DE POESIA ADELE DE OLIVEIRA NÃO SE REALIZOU. É SABIDO QUE O NÚMERO DE PARTICIPANTES FOI MÍNIMO. SABEMOS TAMBÉM QUE EM NOSSA CIDADE EXISTEM GRANDES POETAS VIVOS, COM TRABALHOS QUE SÓ NOS ENCHEM DE ORGULHO. NA SUA OPINIÃO, O QUE ACONTECEU PARA CAUSAR O (QUASE?) INSUCESSO DESSE CONCURSO?
É difícil fazer uma avaliação a respeito da falta de inscritos no concurso literário Adele de Oliveira. Em anos anteriores o número de participantes também vinha diminuindo. Penso que uma das causas foi a incerteza de que o concurso ia ser realizado. Outro ponto foi a falta de divulgação e, também, da participação efetiva das escolas em relação aos alunos. Algumas escolas nem chegaram a inscrevê-los, principalmente as da rede pública municipal de ensino. Para que um evento dessa natureza tenha êxito é necessário que todas as secretarias envolvidas estejam em sincronia para não haver falhas. Talvez a efervescência do momento político também tenha contribuído para que o prêmio Adele de Oliveira não se realizasse. Foi lamentável porque rompeu um ciclo de 15 anos.
É importante que o Prêmio tenha continuidade e que os participantes acreditem na sua realização. É através do concurso que nossos valores literários têm visibilidade, nossos grandes poetas se mostram e nos presenteiam com lindas poesias. Nossos alunos precisam lutar por esse espaço que foi conquistado com tanta luta. Nós, educadores, não podemos deixar de incentivá-los a produzirem poesias e concorrerem, de forma salutar, para mostrarem que é possível fazer cultura em nosso torrão.
Escrito por gibsonmachado.fotos às 14h38
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BLOG DE JOÃO ANDRÉ - PAPO 10
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06. LEITOR ELIEL FERREIRA – MESES ANTES DO POETA AMARILDO FALECER, ESTIVE COM ELE NA CLÍNICA DE FISIOTERAPIA, ONDE ELE FAZIA TRATAMENTO. CONVERSANDO, PERCEBI SUA INSATISFAÇÃO COM A REALIDADE DA CULTURA LOCAL NAQUELE PERÍODO. ORA, ELE SEMPRE ESCREVEU EXCELENTES POESIAS, MESMO ASSIM NÃO CONSEGUIU PUBLICAR O SEU LIVRO. POR OUTRO LADO, CONHECENDO AQUELE SEU LADO MEIO ARREDIO, TALVEZ ISSO TENHA DIFICULTADO ALGUM CONTATO NESSE SENTIDO, UMA VEZ QUE ELE VIVEU MOMENTOS BEM MAIS PRÓSPEROS COM RELAÇÃO AO INCENTIVO CULTURAL POR AQUI. O QUE VOCÊ DIRIA SOBRE ISSO?
Realmente é lamentável Amarildo não ter publicado seus trabalhos. Ele era uma pessoa muito reservada e não é do meu conhecimento que tenha procurado ajuda para publicar suas produções. Eu o provoquei várias vezes para organizar as poesias e ele sempre desconversava e dizia que estava preparando o material. Parece que ele não tinha isso como meta principal em sua vida. Acho que era uma forma de protestar contra aquilo que não concordava. Assim era seu comportamento e tínhamos que respeitá-lo. Ele partiu e sua obra permanece viva. Buscarei apoio para tornar sua obra pública através de um livro, assim, as poesias do poeta ficarão registradas.
07. LEITOR – PROFESSOR GIBSON, VOCÊ COMO PROFUNDO CONHECEDOR E INCENTIVADOR DA CULTURA LOCAL O QUE ACHA DA IDÉIA DA PUBLICAÇÃO DE UMA COLETÂNEA COM ALGUNS TRABALHOS DOS NOSSOS POETAS QUE ATÉ ENTÃO VIVEM NO ANONIMATO, POIS NUNCA TIVERAM OPORTUNIDADE DE PUBLICÁ-LOS, SABE-SE QUE EXISTE UM METERIAL MUITO BOM ENGAVETADO. QUAL SERIA O CAMINHO E OS PROCEDIMENTOS PARA SE CHEGAR A ESSE SONHO? E VOCÊ COM A EXPERIÊNCIA QUE TEM NÃO PODERIA SER O NOSSO EMBAIXADOR NESSE PROJETO?
Em novembro de 2008 fiz um orçamento para um livro de poesias com 200 páginas e uma tiragem de 500 exemplares. Em seguida fiz contato com alguns poetas para tentarmos editar uma antologia em que juntaríamos 10 poetas e cada um publicaria 20 trabalhos. Algumas pessoas se interessaram, mas não me procuraram para iniciar o processo de digitação e diagramação do material.
Espero que possamos retomar esse projeto uma vez que temos tantos poetas esperando por uma oportunidade. É preciso acreditar que é possível, mas se não corrermos atrás de nossos objetivos eles não ficarão esperando serem alcançados. Vou propor novamente uma reunião com nossos bardos menestréis para levarmos adiante nosso projeto e desde já quem se interessar entre em contato comigo para podermos conversar a respeito.
08. LEITOR – A NOSSA CIDADE É MUITO CARENTE EM PESSOAS QUE REALMENTE SE PREOCUPEM COM A CULTURA DE CEARÁ-MIRIM. QUEM VOCÊ APONTARIA COMO OUTRO ESTUDIOSO DE NOSSA CULTURA?
Muitas pessoas estudam a história de Ceará-Mirim. São estudiosos que estão fazendo suas pesquisas muito antes de meu interesse pelo assunto, como professor Claudio Junior, professor Assis, professor Gerinaldo Moura, Professor Bill, Franklin Marinho, Manoel Ubiratan e muitos colegas que terminaram os cursos de história e turismo e fizeram pesquisas a respeito de nossa cidade como professor Sergio, professora Dayane da Luz, Elicarla, prof. Laercio, prof. Wellington, profa. Tatiane, Ana Neri, Karol Ramalho e tantos outros. Recentemente conheci alguns alunos do curso de história da UVA e percebi que surgiriam muitos pesquisadores de nossa história e só temos a agradecer o esforço e dedicação de alunos como Francisco, Esteferson, Junior e tantos outros que têm se esforçado para contribuir com o conhecimento de nossa terra.
Há algum tempo venho conversando com amigos para criarmos uma espécie de Centro de Estudos no qual reuniríamos periodicamente todas as pessoas que têm interesse na história de Ceará-Mirim. É preciso ter coragem e determinação para iniciarmos esses encontros.
09. LEITOR – VOCÊ GOSTARIA QUE O ESTUDO DA CULTURA CEARAMIRINENSE ESTIVESSE CONTIDO NA GRADE CURRICULAR DO NOSSO MUNICÍPIO?
É louvável o projeto do vereador Julio Cesar sobre o estudo de História e Geografia nas escolas municipais. É claro que se houvesse a possibilidade de nossos alunos estudarem cultura de Ceará-Mirim como disciplina seria uma conquista muito grande. No entanto, cabe aos professores direcionarem os conteúdos de modo que contemplem a cultura junto aos conteúdos de História e Geografia e que haja capacitação dos professores.
10. BLOG – FAÇA UMA AVALIAÇÃO DO GOVERNO PEIXOTO.
São seis meses de administração e não é tempo suficiente para fazer uma análise de gestão. A organização administrativa não pode parar em função do passado, é preciso continuar produzindo, dando encaminhamentos aos projetos não concluídos e as novas propostas que, certamente foram programadas pela equipe do prefeito.
O período eleitoral passou e é preciso cumprir as promessas de campanha priorizando as melhoras que Ceará-Mirim espera. As responsabilidades confiadas ao prefeito são enormes e difíceis e, provavelmente, ele deverá honrar todas elas, afinal, é o principal responsável pelas ações de governo. Ele é o timoneiro do “Bahia” e, somente ele, pode delinear seu destino!!!
Transcrito do blog JOÃO ANDRÉ - Papo 10