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sexta-feira, 16 de julho de 2010

GÊNIOS DO TEATRO

nelson Rodrigues, nasceu da cidade do Recife - PE, a 23 de agosto de 1912. Começou a freqüentar o ambiente jornalístico ainda muito cedo, trabalhando no jornal do pai, Mário Rodrigues como repórter policial, aos treze anos. Após a morte de seu pai começou a trabalhar para o jornal O Globo, em 1931. De saúde muito frágil, passou sua vida em redações de jornais e lutando contra a tuberculose e outros males. No ano de 1941 lança sua primeira peça, ´A mulher sem pecado´, sem grande repercussão. Mas em 1943 aparece ´Vestido de noiva´, uma revolução em linguagem e estilo teatrais nos anos 40 na ousada montagem de Ziembinski. Mesmo com a fama que seu trabalho teatral começa a lhe trazer, os assuntos financeiros sempre foram motivo de preocupação na maior parte de sua vida e Nelson continuou a escrever em O Globo e outros jornais e revistas. Em O Jornal, aparece com o pseudônimo de Susana Flag e lança a série ´Meu destino é pecar´, em 38 capítulos de enorme sucesso, o que o levou a lançar uma segunda série, ´Escravas do amor´. Em 1948 publicou ´Núpcias de fogo´, ainda como Susana Flag, e a peça ´Anjo Negro´. No ano seguinte passou também a responder cartas de leitoras com o nome de Myrna. Em 1950 estreou ´Dorotéia´ e começa a escrever, para o Última Hora, a série ´A vida como ela é...´ Em 1954 lançou ´Senhora dos afogados´, com direção de Bibi Ferreira. Uma única vez trabalhou como ator, na sua peça ´Perdoa-me por me traíres´. Foi para a televisão, em 1960 como comentarista no programa ´Grande Resenha Facit´, na TV Rio. Escreveu a novela ´A morte sem espelhos´, que foi censurada, como toda a sua obra, aliás. Nos anos 40 e 50, Nelson era atacado por ser ´ousado´, e foi igualmente perseguido nos anos 70 por ser ´retrógrado´, mas continuou a ser Nelson. Escreveu sua última grande peça, ´A serpente´, em 1979 e faleceu no ano seguinte, a 21 de dezembro.


TEATRO
Teatro completo- "Editora Nova Fronteira" - 1981-89.
A obra teatral de Nelson Rodrigues é composta de 17 peças, que, em sua edição completa foram divididas em quatro blocos:

-Peças psicológicas
A mulher sem pecado - Nelson Rodrigues, enfrentando dificuldades financeiras, teve a idéia de escrever uma chanchada para ganhar dinheiro. A iniciativa resultou em sua primeira peça, A mulher sem pecado, que não era uma chanchada e tampouco trouxe dinheiro a seu autor. Este texto, escrito em 1941, já trazia os valores dramáticos, temáticos e poéticos que consagrariam o autor como o grande renovador do teatro brasileiro. "A mulher sem pecado" narra as aflições de Olegário, homem que sente um ciúme doentio por sua mulher, a jovem e bela Lídia. Ele dá dinheiro extra a seus empregados para que eles investiguem a vida, o passado e todos os passos de sua esposa. Mas os testes de Olegário acabam tendo um efeito contrário.
Vestido de noiva - A peça que revolucionou o teatro brasileiro conta a história de Alaíde, moça atropelada por um automóvel que, enquanto é operada no hospital, relembra o conflito com a irmã, Lúcia, de quem tomou o namorado, Pedro, e imagina seu encontro com Madame Clessi, cafetina assassinada pelo namorado de 17 anos. Influenciada pelas idéias de Freud, a história é contada em três planos - o da realidade, em que ela é operada e seu acidente é comentado por jornalistas; o da alucinação, em que surge Madame Clessi, que Alaíde conheceu lendo o seu diário; e o da memória, em que ela lembra o triângulo amoroso com Lúcia e Pedro. O enredo abusa de flashbacks, recurso, na época, usado apenas no cinema.
Valsa nº 6 - Enquanto executa a 'Valsa n. 6', peça musical de Chopin, Sônia é apunhalada pelas costas. Mesmo morta, a adolescente de 15 anos tenta, durante um período de sobreexistência espiritual, montar o quebra-cabeça de suas memórias e reconstruir os acontecimentos de sua vida.
Viúva, porém honesta - Vista como uma vingança e um desabafo de Nelson Rodrigues contra médicos, psicanalistas, jornalistas e especialmente contra a crítica teatral, a "farsa irresponsável em três atos" mostra um dono de jornal sem escrúpulos que, para discutir o problema da filha Lucy, promove uma reunião com um médico, um psicanalista, uma cafetina e até o diabo (papel de Jece Valadão). De esposa adúltera, Lucy se torna uma viúva respeitosa que não quer mais sentar depois da morte do marido, Dorothy Dalton, delinqüente juvenil transformado em crítico de teatro e obrigado a se casar com a filha do patrão, apesar de ser homossexual. Além de um contra-ataque, a peça também serviu como embrião para tipos que foram retomados em trabalhos posteriores. O doutor J.B. de Albuquerque, dono do jornal, pode ser considerado o primeiro molde do dr. Werneck, de Bonitinha, mas ordinária, assim como a tia solteirona que gostaria de ter 3.500 amantes reaparece em Toda nudez será castigada.
Anti-Nélson Rodrigues - "Anti-Nelson Rodrigues" foi escrita em 1973, sob encomenda para a atriz Neila Tavares, que há muito pedia a Nelson que lhe propiciasse um texto original. Da insistência da atriz resultou esta peça, que narra a história do filho do casal Tereza e Gastão. Oswaldinho, jovem mimado pela mãe e desprezado pelo pai, inescrupuloso, ladrão e mulherengo, se torna dono (por insistência de Tereza) de uma das fábricas do pai e se apaixona por uma funcionária recém-contratada da fábrica, a jovem e incorruptível Joice. Acostumado a ter tudo o que quer, Oswaldinho tenta comprar Joice. Mas a pura Joice espera por um amor desde menina e não se deixa levar pelo dinheiro. Será preciso mais, muito mais para ela ceder.
-Peças míticas
Álbum de família - Nelson Rodrigues desmistifica a imagem aparentemente normal de uma família. Enquanto um speaker (locutor) faz elogios à harmonia e à felicidade da família completamente falsos, seus componentes posam para retratos (“O speaker é uma espécie de Opinião Pública”, orienta Nelson na abertura do primeiro ato), num espaço de tempo que vai de 1900 até 1924. A peça mostra as obsessões incestuosas que corroem seu interior e resultam em diversos atos de violência e perversão sexual. “Álbum de família, a tragédia que se seguiu a Vestido de noiva, inicia meu ciclo do ‘teatro desagradável’. Quando escrevi a última linha, percebi uma outra verdade. As peças se dividem em interessantes e vitais”, afirmou o dramaturgo. A peça foi fundamental, segundo o próprio Nelson para que ele se tornasse um “abominável autor”. Depois de sua encenação, conta, “por toda parte, só encontrava ex-admiradores”. A obra foi proibida durante vinte anos por “preconizar o incesto e incitar ao crime”, segundo a censura da época.

Anjo negro - A peça, que esteve sob censura durante dois anos, narra a polêmica história de Ismael, negro que renega a própria cor, e de sua mulher, Virgínia, branca filicida que não aceita a prole mestiça gerada, na relação com o marido. Tomada pelo louco desejo de ser mãe de um filho branco, Virgínia comete adultério com Elias, o irmão de criação branco e cego de Ismael. Desse breve envolvimento nasce afinal uma criança, branca como a neve, para a felicidade da mãe. Mas o nascimento é apenas o desencadeador de novas tragédias.
Senhora dos Afogados - A estréia da atriz Nathalia Timberg (no papel de Dona Eduarda, a mãe) dividiu o público no Teatro Municipal em 1954. Ao final da apresentação, dirigida por Bibi Ferreira, parte da platéia gritava "Gênio" e outra, "Tarado" – o que fez Nelson subir ao palco para chamar de "burros" a segunda metade. A peça foi censurada em 1953 e só foi liberada no ano seguinte graças à interferência do jornalista Otto Lara Resende, amigo de Nelson e do então recém-nomeado ministro da Justiça do segundo governo Getúlio Vargas, Tancredo Neves. O texto conta a história da família Drummond, assombrada pela morte das filhas por afogamento, pelo incesto e pelo assassinato de uma prostituta no passado, atribuído a Misael, o pai.
Dorotéia - Dorotéia, ex-prostituta que largou a profissão depois da morte do filho, vai morar na cada de suas primas, três viúvas puritanas e feias que não conseguem enxergar os homens e não dormem para não sonhar. Ao contrário das mulheres da família, Dorotéia é bonita, exuberante, e não tem aversão aos homens. Mas, em troca de abrigo, aceita se tornar tão feia e puritana como as primas.
Tragédias Cariocas I
A falecida - A obra teatral de Nelson Rodrigues exibe o olhar irônico e satírico deste dramaturgo genial sob re um país e uma sociedade em transformação vertiginosa. Nas 17 peças que escreveu ao longo de sua carreira, ele inaugurou e consolidou o modernismo no teatro brasileiro. A falecida conta a história de uma mulher frustrada do subúrbio carioca, a tuberculosa Zulmira, que não tem mais expectativas na vida. Pobre e doente, sua única ambição é um enterro luxuoso. Zulmira quer se vingar dos ricos e, principalmente, de Glorinha, sua prima e vizinha, que não lhe cumprimenta mais. Mas o marido dá a ela um desfecho completamente diferente. A falecida estreou em 1953 com uma originalidade que atraiu a atenção de público e crítica -a multiplicidade de cenários: num espaço vazio, o único objeto fixo eram as cortinas, e os próprios atores moviam cadeiras e outros acessórios pelo palco.

Perdoa-me por me traíres
Glorinha tem 16 anos e perdeu a mãe, assassinada por seu tio Raul. Objeto de desejo do assassino, ela é ferozmente vigiada por ele, sob o pretexto de preservar sua castidade. Mas, conduzida por uma colega de escola que é prostituta, Glorinha acaba conhecendo e se fascinando pelo mundo dos bordéis, ao mesmo tempo em que prepara uma terrível vingança contra o tio. Raul, personagem abominável da criação rodriguiana, foi vivido pelo próprio Nelson Rodrigues durante a temporada de estréia da peça, em 1957.
Os sete gatinhos - A família Noronha parece ser tão normal quanto qualquer outra. No entanto, se esconde sob as aparências. Quatro das cinco filhas da família se prostituem para garantir a castidade e a boa educação da mais nova, Silene. Só que Silene não é a virgem que todos pensam ser, e nem seus pais estão livres de terríveis perversões.

Boca de ouro - Tragédias Cariocas IIBoca de Ouro é bicheiro, típico malandro carioca, e em certo momento da vida decide trocar todos os seus dentes por uma dentadura de ouro maciço. Em texto ágil e moderno, Nelson Rodrigues narra a história em três diferentes versões.
O beijo no asfalto - Esta tragédia carioca em três atos, escrita em 1960 e encenada pela primeira vez em 1961, conta a história de um homem que beija um atropelado agonizante na rua e é acusado publicamente de ser homossexual - até mesmo por sua mulher - trazendo à tona a hipocrisia e a falsidade das relações humanas.
Otto Lara Rezende ou Bonitinha, mas ordinária- Edgard, um simples contínuo, recebe uma proposta tentadora: se casar com a filha do dono da empresa em que trabalha, a bela Maria Cecília, que alega ter sido estuprada por cinco negros. O problema é que Edgard gosta de Ritinha, vizinha pobre que sustenta a mãe louca e as três irmãs prostituindo-se. Ignorando a profissão da bela menina, ele não quer aceitar o casamento com Maria Cecília para ficar com seu amor verdadeiro.
Toda Nudez Será Castigada - Herculano é um viúvo que sofre as dores da perda de sua amada esposa. Certo dia, ele é presenteado pelo irmão com uma garrafa de bebida e uma foto da prostituta Geni, nua. Três dias depois, o viúvo acorda num bordel ao lado da moça. E então começa um obsessivo e apaixonado caso entre os dois. Herculano, cego de paixão, vai se opor a toda a família se casando com Geni. Mas acontecimentos inesperados transformam para sempre o futuro que ele imaginava.
A serpente - A obra teatral de Nelson Rodrigues exibe o olhar irônico e satírico deste dramaturgo genial sob re um país e uma sociedade em transformação vertiginosa. Nas 17 peças que escreveu ao longo de sua carreira, ele inaugurou e consolidou o modernismo no teatro brasileiro. Num mesmo apartamento, moram as irmãs Guida e Lígia, e seus respectivos maridos, Paulo e Décio. Sexualmente infeliz, ainda virgem depois de quase um ano de casada, Lígia desfaz seu casamento e pensa em morrer. Para ajudar a irmã, Guida lhe faz uma proposta: que Lígia passe uma noite com Paulo. Depois dessa noite, nada será como antes. Forma-se então um triângulo amoroso, capaz de alcançar todos os extremos. Escrita em 1978 e encenada em ato único, A Serpente é a última peça de Nelson Rodrigues.

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